sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Acordo...


Acordo de noite subitamente,
E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora.
O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.

Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena cousa de engrenagens que está em cima da minha mesa

Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única cousa que o meu relógio simboliza ou significa
Enchendo com a sua pequenez a noite enorme
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez...


Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLIV"


Depois da leitura de muitos poemas e da indecisão sobre qual, na verdade, iria escolher, decidi que este era aquele que procurava.
Realmente, é um poema simples, como todos os outros de Caeiro, mas é realmente isso que me deixa curioso.
Caeiro rege-se pelas sensações que os órgãos sensoriais lhe transmitem, e acho que isso está bem patente neste poema…
Agora, a meu ver, acho simplesmente fascinante a maneira como Caeiro vê o mundo, como algo tão simples, quando eu e muitos mais fazemos dele um problema, com ainda mais uns quantos dentro desse mesmo problema, criando preocupações e medos…
Pensamos e pensamos e tornamos a pensar, até que tornamos algo que é estupidamente simples, em algo muito complicado, somos como dizia Caeiro, uns doentes!
Claro que, na minha opinião se todos visse-mos tudo de modo tão simples, não chegávamos a grandes conclusões e nada faríamos a não ser viver e apreciar, não havendo evolução.
Mas não é essa a questão, a questão é que, no meu ver, esta maneira de viver é realmente gratificante para Caeiro, não tem de se preocupar com “nada”, vê as coisas como elas são e não como pensa que realmente são, é quase como um escudo protector de desilusões, que muitos procuramos mas não encontramos, porque não podemos deixar de pensar, em vários pontos de vista sobre o que quer que seja, fazendo-o muitas vezes para tentar entender, o que já está muitas vezes entendido…


Gonçalo Fonseca, 12ºA

[texto não editado pela professora]

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