segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Quando Caeiro diz...


Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios…
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.

Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos…
Não concordo comigo mas absolvo-me
Porque só sou essa coisa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem, por ela não ser linguagem nenhuma.


Alberto Caeiro


Ao princípio, tive dificuldades em escolher um poema de Fernando Pessoa ou de um dos seus heterónimos, mas por fim optei por escolher este poema de Alberto Caeiro pois, das poesias que estudamos na aula do Ortónimo e Alberto Caeiro, é com Caeiro que mais me identifico.
A maneira como ele descreve a Natureza na sua poesia, sem lhe dar segundas intenções, sem que entre a subjectividade, é uma coisa impressionante. E depois a linguagem simples que ele usa, mostra que ele não procura significados para as coisas que vê. Estas são algumas das razões que me levaram a escolher este poema. Um poema simples e que é muito caracterizador de Alberto Caeiro.
Os primeiros quatro versos revelam o olhar nítido do poeta, sem passar pelo “crivo” da razão, olhar esse, que para o poeta, é que é o olhar verdadeiro, aquele que é objectivo, aquele que não atribui significados, aquele que vê tudo ao natural:
“Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
Os 2 últimos versos da 1ª estrofe mostram-nos que o poeta rejeita o pensamento e valoriza as sensações, principalmente a visual. Quando fala dos homens falsos está a referir-se aos homens que privilegiam o pensamento, aqueles que não se contentam em observar apenas, aqueles que preferem ver o lado místico de, por exemplo, uma flor e que a associam logo a emoções e gestos humanos, não se contentando que ser apenas uma flor e nada mais do que isso.
Na 2ª estrofe Caeiro afirma que, às vezes,tem que se sacrificar à estupidez de sentidos dos homens falsos, mostrando que, às vezes, também pensa. Mas para Caeiro, não são os pensamentos que provocam as ideias, estes aparecem como algo passivo que só é utilizado para guardar as ideias, a sua poesia é natural, assim como a natureza. O que está no pensamento é o resultado da percepção imediata e é isso que regista nos seus versos.
Assume-se como o intérprete da natureza, aquele que a percebe, pois não há nada a perceber a não ser que o que existe é a própria natureza.
Nos dois últimos versos o poeta torna a afirmar que a natureza não é mais do que isso, a natureza.
Neste poema, o poeta usa uma linguagem simples, vocabulário pobre, predomínio de nomes concretos, ausência de adjectivos, pois ele não atribui significados, por exemplo, a uma flor, e por isso não precisa de adjectivos, verbos no presente, o que exprime actualidade, permanência, variedade métrica e rítmica, estrofes com seis versos - sextilhas, ligação de orações por coordenação.

Manuela, 12ºB

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