sábado, 5 de dezembro de 2009

Tenho pena e não respondo




Tenho pena e não respondo.
Mas não tenho culpa enfim
De que em mim não correspondo
Ao outro que amaste em mim.


Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros - cada um sente
O que julga, e é um erro imenso.

Ah, deixem-me sossegar.
Não me sonhem nem me outrem.
Se eu não me quero encontrar,
Quererei que outros me encontrem?


Fernando Pessoa


Os poemas de Fernando Pessoa (Ortónimo) são complexos e tem a sua própria natureza racional.
O poema em questão retrata a incapacidade de amar do autor, o que não é muito habitual da Obra Pessoana (???), mas um estado de espírito que nos leva ao quotidiano do poeta (???).
Vemos que, neste poema, ele toma as exigências da sua "amante" por coisas que lhe são impostas: "Tenho pena e não respondo", é de certa maneira uma reacção passiva-agressiva às exigências normais do amor de uma mulher, quando Pessoa sente que ela lhe pede algo e ele sente não conseguir satisfazer a sua amada.
Pessoa, neste poema, entra num mundo “à parte”, de não querer ser conhecido para não se encontrar consigo (?). Vejo-me como o autor, porque, se por vezes, não deixar demonstrar o meu lado tranquilo e desafogado irei absorver tudo o que há de mau e não aproveito o que de melhor a vida me oferece.
Não conseguindo multiplicar-me como este senhor, consigo atingir os mesmos objectivos deste.


Cada um é muita gente.
Para mim sou quem me penso,
Para outros - cada um sente
O que julga, e é um erro imenso.

Fernando Pessoa


Eu sou como sou,
Cada um é como é.
No meu mundo estou,
Cada um anda a pé!


Pedro Maciel

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

Então o senhor Maciel rima? a tentar desafiar o génio, é? eheheh gostei do atrevimento.
Tens uma abordagem interessante, discutível, comme il faut