sexta-feira, 19 de outubro de 2012

" E é na morte de um poeta que se principia a ver que o mundo é eterno..."


MANUEL ANTÓNIO PINA (18 Nov. 1943 - 19 Out. 2012)
 
 
 Hoje é um dia triste, como o são todos os dias em que perdemos a promessa de o dia seguinte nos trazer um momento de beleza. Manuel António Pina era uma promessa sempre cumprida. Quantas vezes procurei as suas crónicas, sabendo de antemão que me fariam sorrir, com a sua fina ironia, com a sua escrita simples e depurada.
Felizmente, recebeu em mãos, no ano passado, o prémio Camões.
E deixo o convite para o descobrirem, ao virar de uma página de jornal, neste mundo virtual, num conto infantil (tão adultos!), numa peça de teatro, na poesia...
 
A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não acabarem).

Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei:
“Que fez algum poeta por este senhor?”

E a pergunta afligiu-me tanto
por dentro e por fora da cabeça que
tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
– Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar?


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